sexta-feira, 4 de julho de 2008

Capítulo Um

Férias de Julho, da janela do quarto, Patrícia vê as gotas de chuvas terrosas batendo na janela. Mais um dia, sozinha. Porque que só comigo é assim? O que foi que eu errei, falou baixinho, indignada com tom tristonho rotineiro de mais um dia normal, ecoando no vazio do seu quarto.

Liga o som baixinho fazendo sintonia com a chuva que cai lá fora. Melodramas depressivos a faziam companhia. Imagens, sons, vozes, rostos passavam como filme na sua lembrança. Gotas quentes escorriam sob o seu rosto úmido. Patrícia pega folhas e tinta para conversar com os seus verdadeiros amigos.



Como uma pena

Transparece-se sentimentos
Não contidas as dores
Derramam-se gotas pela face
O calor sentido escorrido pelas curvas
Não pensar no público.

Oh, sensível pessoa,
Não use máscara.
Julguem como quiserem.

Decepcionam-se almas.
Palavras transformadas em sofrimento.
O
abraço não contido.
O amor não esquecido.

Desmoronam-se vidas.
As penas flutuam levemente.
Chegam finalmente ao chão.


Batidas agressivas na porta interrompe a conversa:


- Patrícia!

- O que, mãe!?

- Abre essa porta!


Patrícia se aproxima da porta, passa suas mãos pelo rosto com fervor para secar as lágrimas quentes que escorriam. Ela abre a porta, mesmo sem querer.


- Fala mãe...

- Que cara é essa Patrícia?

- Nada mãe...

- Você anda muito estranha, só fica aí trancada no seu quarto... É telefone pra você.


Patrícia corre pelo corredor afunilado pelas pressões psicológicas que faziam dentro da sua caixinha central, onde passavam dúvidas ansiosas:

- Quem será? Ela pensava... Tomara que não seja...

Pensamentos fazem as suas pernas tremerem, suas mãos suarem... Aqueles segundos antes de chegar ao telefone passavam em câmera lenta, como se durassem uma eternidade.


Patrícia pára em enfrente a mesa do telefone, segura o telefone por alguns momentos, respira fundo, olha para o lado, vê o seu pai sentado na poltrona da sala assistindo o seu clássico joguinho de futebol, seu rosto se aquece e entra em chamas. As palavras entalaram na sua garganta de uma forma que só de pronunciar uma sílaba já sairia arranhando sua traquéia como um estupro verbal.


- Alô.

- Oi Pati, aqui é Mi. Tudo bem? Você está sumida! O pessoal ta fazendo uma reuniãozinha hoje lá na casa de Pedro, ta afim?

- Ah... Não sei não... To meia down hoje. To cansada...

- Ah! Fala sério Pati, cansada de que?! Você ta de férias! (riu em tom irônico suspirando surpresa)

- Quem vai?

(Sua voz saiu como palavras fracas desmotivadas pelo tédio, mascarando a ansiedade e o nervosismo, que se debatiam entre as suas cordas vocais famintas por liberdade)

- A galera...

- Quem exatamente?

(Cai por fragmentos de segundos, parte de sua máscara, vazando a sua curiosidade ansiosa)

- Ah.. Não sei exa-ta-men-te... Mas alguns meninos da turma e a Bia, a Tatiana, Sabrina...

- Ta de repente...

- Marina...

_ Ah... Vou ver.


Os fonemas de Milena saiam soletrados como um jogo descontraído, nos pensamentos gritava dúvidas que tentavam ser abafadas pelo bom senso, Milena pensava indagada:

- Porque será que ela ta querendo tanto saber quem vai... Parece que ta preocupada com alguma coisa, com alguém... Sei lá... Pati anda muito estranha parece que às vezes não a reconheço mais. Ah... Deixa isso pra lá! Oh, Milena pára de ficar pensando besteiras!


- Ah, pára Patrícia! Você precisa sair mais! Você vai sim! Daqui a pouco passo aí pra irmos juntas!

Afirmou convicta a salvar a amiga, que fugia do mundo por algum motivo desconhecido, pelo menos por ela.


- Ta ok, Mi! Eu vou!

Suas palavras soavam como um sorriso amarelo de um jogador perdedor dando os cumprimentos ao seu adversário.

quinta-feira, 3 de julho de 2008